2006/06/28

À Procura da Razão

Ainda hoje, decorridos mais de 34 anos, estou para perceber o que leva uma pessoa de bem, a ir bater com o costado nos “Páras”.
Tenho conversado com alguns camaradas de armas, sobre as razões que levam uma pessoa a ser voluntário para as tropas pára-quedistas, mas não se retira nenhuma conclusão plausível.
No meu caso particular, quando na adolescência sempre quis ir para a Marinha e, não fosse a influência directa de um amigo (Amigo mesmo), que tinha a “mania” de que queria ser “Pára-quedista”, era para a Marinha que eu iria certamente. Ainda por cima eu, um gajo pacato, que gosta das calmas, ir para aquela coisa de malucos que saltam de avião…
O meu amigo, esse sim, que era marado do capacete todos os dias, tinha as condições subjectivas para vir a ser pára-quedista, o que acabou por acontecer.
Inevitavelmente, em paralelo à instrução ele ia recebendo nos "Páras", exercia toda possivel (quer em forma, quer em conteúdo) acção psicológica sobre mim, no sentido de me demover da ideia peregrina de ir para a Marinha, o que obviamente conseguiu. Desde referir que estava desejoso de me ver vestido como o Pato Donald, passando pelo ensino das técnicas do salto, executados nos paredões da praia do Castelo do Queijo, adornados com as constantes afirmações, de que o que eu tinha era “caguefes”, valeu tudo para me influenciar, menos arrancar olhos.

O certo, é que todos os pára-quedistas que conheci, para além de não fecharem bem a porta ( o que é universalmente reconhecido), eram por mim, vistos como uns gajos diferentes; uns gajos que estavam num patamar não alcançável por qualquer um. Foi talvez isso que me fascinou e, orientou a minha decisão definitiva: Querer ser também Pára-quedista!
Quando comecei a preparar os meus "velhotes" para esta ideia, mais do que o espanto, foram as afirmações claras, precisas e definitivas: Tu és maluuuco!.. Olha para o que te deu!... Raisparta o rapaz que não tem juízo. Isto entre outros “mimos” altamente motivadores.
Claro que o meu pai, que era militar da G.N.R., começou logo a demonstrar toda a sua sabedoria, na forma categórica com com que manifestava a certeza de que eu não iria conseguir passar nas provas, pois, pelo conhecimento que tinha de filhos de colegas seus - alguns dos quais tinham sido eliminados -, “aquilo não era pêra doce”, e certamente iria ser também eliminado nas provas.
Depois de ter “dado os sinais” no Centro de Recrutamento, lá fui em Janeiro de 1972, fazer uma viagem até Tancos, para efectuar as tão propaladas, difíceis provas de admissão. Começava-se a vislumbrar no meu horizonte mental, que eu, contrariamente ao que pensava, também não era lá muito certo da cachimónia.

(Brevemente novos episódios, neste Blogue perto de si.)

3 Comments:

At 9:49 da tarde, Blogger JM said...

Por dificuldades de acesso do meu camarada Natálio, transcrevo a mensagem que me endereçou:

"Eu posso te responder, a respeito de mim.
Eu trabalhava num café em Lisboa, isto em 1961,quando um general, general mesmo, da Força Aérea, cliente diário daquele café, me meteu o vício.
Ele me informou de tudo o que lá se passava, incluindo a farda, a alimentação, a camaradagem,e até o espírito de luta, na defesa dos ideais.
Foi ele mesmo quem me tratou da documentação.
E lá fui eu parar durante 39 meses e 29 dias."

 
At 10:23 da tarde, Blogger José Marques said...

Transcrevo esta passagem das minhas memórias em 1969 na junta de inspecção militar em Viana do Castelo e que ilustra de alguma forma o que me levou a ir para os Pára-quedistas.


E lá ia vociferando aquele animal fardado de sargento do exército:
- “Não ouvem suas merdas, é assim que querem ser militares?”.
“Nessa altura ainda me martelava nos ouvidos “Não ouvem suas merdas? É assim que querem ser militares?” e foi com isso a zurzir nos ouvidos que tomei a minha primeira grande decisão e disse para o Jorge, amigo pachorrento com cara de menino, meu colega de muitas lides e brincadeiras desde a escola primária:
- “Militar como ele não vou ser de certeza! Vamos para a Marinha, Jorge?”.
Respondeu-me de imediato o Jorge:
- “Estás maluco, eu nem sei nadar!”.
E do outro lado do trio, disse o Fiúza, o pescador:
- “Vamos Zé? Eu vou inscrever-me para a Marinha”.
Estas posições opostas, de dois amigos de infância, baralharam-me as contas, pois fazia intenção de irmos os três juntos para a tropa. Então, sem lhes dizer a verdadeira razão, pois para mal dos meus pecados também não sabia nadar, disse:
- “Nada disso, vamos para a Força Aérea e o culpado é aquela barriga fardada. Não quero ir para o Exército”.”

 
At 11:04 da tarde, Blogger JM said...

Errei nos meses....
Foram 47 meses e 39 dias

 

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