2007/01/13

IMPORTANTE!

Este Blogue, como podem verificar, está feito num oito. É o resultado das mudanças.
Pois é, queridos e estimados visitantes: "Pára-quedistas 1/72" mudou-se para o este lugar.


Desde já pedimos desculpa pelo incómodo.

A Gerência

2006/08/12

A Recruta ( Camas à branco e azul)

Antes de mais, tenho de agradecer a alguns camaradas, que de uma ou outra forma, me ajudarem a reavivar a memória sobre alguns aspectos da nossa recruta, particularmente o meu camarada e amigo Manuel Prazeres, ao me lembrar aspectos que estavam um pouco desvanecidos.

Posto isto, é altura de referir que para além das questões de preparação militar, onde a instrução de ordem unida tinha grande importância - direi mesmo: elevada importância -, o rigor e disciplina constatavam-se a diversos níveis, e nas coisas teoricamente menos significantes, tais como, as formas de fazer as camas, quer “à branco” quer “à azul”.

Chamava-se “cama à branco”, ou “à azul” à forma como era efectuada a dobragem dos cobertores e lençóis. Nos períodos de calor, era a “cama à branco”. No Outono e Inverno, era a “cama à azul”. Mas isto não era quando nos desse na telha. Tinha de sair em Ordem de Serviço!

Para além do “espectáculo” que era, um magote de putos habituados a que as mãezinhas fizessem tudo, terem de arranjar em breves minutos as suas camas. Ainda por cima, tinham os lençóis de estar de tal forma esticados, que largada uma moeda, ela devia saltar.

Claro está que no caso de haver alguém menos eficiente, "lerpávamos" logo com uma completa de 10, colectiva.

Tudo isto: fazer as camas; a limpeza dos quartos (camaratas), que incluía esfregar o chão e encerar, limpar os armários (ai se houvesse pó ao passar com o dedo…), entre outros, era um elemento importante da disciplina e até de formação de espírito de grupo, pois cada um sabia que “estava feito ao bife”, se alguém não fizesse o trabalho em condições.

Claro está que, como a necessidade aguça o engenho, também criávamos formas de contornar as situações de higiene duvidosa, limpando só os armários até onde o braço do sargento chegava, ou dando nós nos cantos dos lençois, de forma a ficarem sempre esticados.

O problema era quando os "sorjas" estavam mal dispostos, e como conheciam os truques todos... tarúz... tá a pagar, que é para não te armares em chico-esperto!

2006/08/09

Continuando com a Recruta (2)

2006/08/05

Continuando com a Recruta (1)

Andava aqui às voltas, a pensar o que abordar que seja relevante, quando o meu outro eu, disse cá para mim:

- Ó pá… porque é que estás cá com merdas, e em vez de escreveres o que todos os Páras já sabem e andares armado em José Saramago de trazer por casa, não ilustras a tua experiência?

Ao qual respondi:

- Tá bem… até que nem é mal visto. Afinal na Recruta não te recordas de nada significativo, para além de te estares sempre a baldar a alguns exercícios, eras um gajo bem comportado…

- Baldar, vírgula!... Era chamado para fazer uns desenhos e pinturas de cenários.

- Tá bem... baldar é uma força de expressão. Mas voltando à vaca fria...

- É o que eu te digo, meu: Faz uns bonecos, que entre tu escreveres ou desenhar, venha o diabo e escolha, mas ao menos é diferente.

- Caralho… mas um gajo tem de escrever alguma coisa sobre os Paras, não é?

- Ohhhh… lá estás tu. Tens muito que escrever, haja é tempo e disposição para isso.

- Hummm… está certo. Vou fazer uns bonecos. Até já tenho algumas ideias, queres ver os rascunhos?

- Ora mostra lá… É isto? Para começo, não parece que esteja mal. Vamos lá ver o que o pessoal acha. Avança!

- Ó pá... mas já fizemos uns bonecos aqui para o blogue. Estão lá em baixo.

- Mas isso não vale. Eram merdas que já tinhas feito e, como bom oportunista que te estás a revelar, pimba!.. aproveitaste. Põe lá esse!

- Pronto…cá vai!


2006/07/30

A Recruta (dois exemplos)

Enquanto vou estruturando o conteúdo do seguimento deste tema - A Recruta -, deixo-vos aqui dois documentos, que por acaso (não... não é por acaso) são cá do menino.

2006/07/29

A Recruta

No dia 6 de Março de 1972, deu-se inicio no Regimento de Caçadores Pára-quedistas, à fase da vida militar de quase 300 jovens, que iriam a fazer parte da 1ª Escola de Recrutas de 1972.

Como não será de estranhar, é
ramos vistos como "aves raras" pelos "nossos Páras" e pelos instruendos, quer pelos cabelos cumpridos, quer pelas "calças à boca de sino" e outras indumentárias oriundas do espírito do movimento hippie, sabendo eles, por experiência adquirida, que muito brevemente o nosso visual estaria radicalmente modificado, pois o que nos esperava era a famigerada carecada - eufemisticamente chamada de "corte a pente zero" -, para além do fardamento usual, caracterizado por medidas que nos faziam sentir dentro de sacos de batatas. A solução era o desenrasque no sentido de atenuarmos aquele mau aspecto, o que por regra, dava resultado.

A partir do momento em que passamos a porta-de-armas, nada seria como dantes. Para quem fazia questão de vir a ser Pára-quedista, só lhe restava aguentar o que estava para advir e, para que não restasse dúvidas a ninguém, logo no primeiro mês não podíamos sair do perímetro militar, o que era uma das manifestações claras, que tínhamos de "baixar a bolinha", que a disciplina era não era letra morta.

Claro está, que tudo fazia parte de um processo formativo, conducente também à aceitação da alteração da estrutura social em que até então estávamos inseridos. Assim, era inevitável que se fizesse novas amizades e, dadas as carecterísticas da unidade e da conceptualidade militar, se fosse estabelecendo o necessário espírito de corpo.

As transformações em cada um de nós, foram muito diversificadas. Éramos nesta fase, uma "massa a ser moldada" e, o processo de "moldagem" tinha em muito a ver com a matriz de cada sargento e outros instrutores. Eles é que nos iriam ensinar a marchar, a formar, a manusear as velinhas Mauser, a reconhecer as patentes (não fossemos "bater a pala" a um qualquer carteiro), a fazer as camas, a sermos ataviados, etc. Isto com a agravante de, como éramos voluntários, "não havia pão para malucos". Era aguentar, ou desistir e ir para o "arremacho"!

Foram 3 meses a aprendermos a ser gente, militarmente falando. 3 meses em que era mais respeitado um cágado (espécie de tartaruga), que havia num pequeno lago em frente ao Bar de Praças, do que era um "catatua".
A mim safou-me o facto do meu amigalhão já referido, e que não revelo o nome só para manter o "suspense" (sou muito mauzinho, não sou?), que, como era velhinho, lá me ia protegendo e orientando num universo de marados para todos os gostos e feitios e, onde por tudo e por nada, estávamos e "encher", ou como se diz nos meios menos ortodoxos: a fazer flexões.
Ser "catatua" era ser pau para toda a colher. Abaixo de nós não havia nada! Pelo menos era esta uma das tangas que nos davam.
Até aos velhinhos tínhamos de tratar por "nosso Pára", e nem pensar em sentarmo-nos à mesa do refeitório sem pedir autorização ao mais velho presente. O tabuleiro da comida ganhava logo asas!

Como compreendem os estimados leitores - isto partindo do pressuposto que os há - , compilar em breves linhas 3 meses de experiências ricas e inovadoras passadas há 34 anos, ainda por cima fazê-lo de memória, não é tarefa fácil para quem está já na proximidade dos 55 aninhos. Por isso aguentem, que logo que a disposição e os neurónios o permitam, darei continuídade a este tema.

2006/06/28

Prestar provas.

Chegado a Tancos, depois de várias horas de comboio, a levar com todo o tipo de "tangas" dos "nossos Páras" e, naturalmente do meu amigo e compadre, recordo-me de ter sido (eu e os outros candidatos, claro), recebido com toda a cortesia e gentileza por parte dos instrutores, aliás, como é apanágio dos "Páras".
Depois de nos terem sido distribuídas umas sapatilhas muito foleiras, e uns calções brancos de sarja, lá fomos em tronco nú, em pleno inverno, prestando as provas físicas, a que se seguiriam os testes psicotécnicos, que ainda hoje não sei para que serviam.
A esta distância de tempo, as recordações são naturalmente pontuais, mas, lembro-me perfeitamente de que, quando efectuamos o salto da Torre francesa, o freguês que ia à minha frente - um latagão com um "cabedal" de fazer inveja - sentar-se na plataforma, e ter-se recusado a saltar. Claro que foi eliminado! O problema é que os bacanos cá em baixo, pensavam que tinha sido eu a hesitar no salto, e queriam obrigar-me a repeti-lo, ainda estava eu a tremer como varas verdes, e com o coração a querer sair pela boca.
Não me recordo de ter conhecido gente tão solícita, ao ponto de nas provas de agressividade -apesar de me terem dito que era de todo conveniente, não se aperceberem de que eu tinha praticado boxe-, um "Pára" topou-me pela forma de respirar e, se calhar em mais uma demonstração de simpatia, insistia em querer fazer boxe comigo. Tenho ideia de que alguém (acho que foi o Carlos Alberto, instrutor de boxe) afirmou conhecer-me (o que era verdade), e garantiu que eu não praticava nada boxe (o que era mentira). O outro é que ficou um tanto desanimado, e assim, pelo que julgo saber, livrei-me de levar cortêsmente nas trombas, pois era sagradinho, que mesmo que lhe desse no "focinho", viria outro "Pára" "defender a honra do convento".
São mesmo atenciosos os "Páras", ao não deixarem uma pessoa sem resposta.

Assim, depois de ter prestados as provas e de me ter livrado de uma tareia à S. Romão do Coronado, lá vim todo contente para casa, pois, cumpridas todas as etapas, tinha sido aprovado.

Próximo capítulo (quer dizer que continua): A Recruta.

À Procura da Razão

Ainda hoje, decorridos mais de 34 anos, estou para perceber o que leva uma pessoa de bem, a ir bater com o costado nos “Páras”.
Tenho conversado com alguns camaradas de armas, sobre as razões que levam uma pessoa a ser voluntário para as tropas pára-quedistas, mas não se retira nenhuma conclusão plausível.
No meu caso particular, quando na adolescência sempre quis ir para a Marinha e, não fosse a influência directa de um amigo (Amigo mesmo), que tinha a “mania” de que queria ser “Pára-quedista”, era para a Marinha que eu iria certamente. Ainda por cima eu, um gajo pacato, que gosta das calmas, ir para aquela coisa de malucos que saltam de avião…
O meu amigo, esse sim, que era marado do capacete todos os dias, tinha as condições subjectivas para vir a ser pára-quedista, o que acabou por acontecer.
Inevitavelmente, em paralelo à instrução ele ia recebendo nos "Páras", exercia toda possivel (quer em forma, quer em conteúdo) acção psicológica sobre mim, no sentido de me demover da ideia peregrina de ir para a Marinha, o que obviamente conseguiu. Desde referir que estava desejoso de me ver vestido como o Pato Donald, passando pelo ensino das técnicas do salto, executados nos paredões da praia do Castelo do Queijo, adornados com as constantes afirmações, de que o que eu tinha era “caguefes”, valeu tudo para me influenciar, menos arrancar olhos.

O certo, é que todos os pára-quedistas que conheci, para além de não fecharem bem a porta ( o que é universalmente reconhecido), eram por mim, vistos como uns gajos diferentes; uns gajos que estavam num patamar não alcançável por qualquer um. Foi talvez isso que me fascinou e, orientou a minha decisão definitiva: Querer ser também Pára-quedista!
Quando comecei a preparar os meus "velhotes" para esta ideia, mais do que o espanto, foram as afirmações claras, precisas e definitivas: Tu és maluuuco!.. Olha para o que te deu!... Raisparta o rapaz que não tem juízo. Isto entre outros “mimos” altamente motivadores.
Claro que o meu pai, que era militar da G.N.R., começou logo a demonstrar toda a sua sabedoria, na forma categórica com com que manifestava a certeza de que eu não iria conseguir passar nas provas, pois, pelo conhecimento que tinha de filhos de colegas seus - alguns dos quais tinham sido eliminados -, “aquilo não era pêra doce”, e certamente iria ser também eliminado nas provas.
Depois de ter “dado os sinais” no Centro de Recrutamento, lá fui em Janeiro de 1972, fazer uma viagem até Tancos, para efectuar as tão propaladas, difíceis provas de admissão. Começava-se a vislumbrar no meu horizonte mental, que eu, contrariamente ao que pensava, também não era lá muito certo da cachimónia.

(Brevemente novos episódios, neste Blogue perto de si.)