2006/07/30

A Recruta (dois exemplos)

Enquanto vou estruturando o conteúdo do seguimento deste tema - A Recruta -, deixo-vos aqui dois documentos, que por acaso (não... não é por acaso) são cá do menino.

2006/07/29

A Recruta

No dia 6 de Março de 1972, deu-se inicio no Regimento de Caçadores Pára-quedistas, à fase da vida militar de quase 300 jovens, que iriam a fazer parte da 1ª Escola de Recrutas de 1972.

Como não será de estranhar, é
ramos vistos como "aves raras" pelos "nossos Páras" e pelos instruendos, quer pelos cabelos cumpridos, quer pelas "calças à boca de sino" e outras indumentárias oriundas do espírito do movimento hippie, sabendo eles, por experiência adquirida, que muito brevemente o nosso visual estaria radicalmente modificado, pois o que nos esperava era a famigerada carecada - eufemisticamente chamada de "corte a pente zero" -, para além do fardamento usual, caracterizado por medidas que nos faziam sentir dentro de sacos de batatas. A solução era o desenrasque no sentido de atenuarmos aquele mau aspecto, o que por regra, dava resultado.

A partir do momento em que passamos a porta-de-armas, nada seria como dantes. Para quem fazia questão de vir a ser Pára-quedista, só lhe restava aguentar o que estava para advir e, para que não restasse dúvidas a ninguém, logo no primeiro mês não podíamos sair do perímetro militar, o que era uma das manifestações claras, que tínhamos de "baixar a bolinha", que a disciplina era não era letra morta.

Claro está, que tudo fazia parte de um processo formativo, conducente também à aceitação da alteração da estrutura social em que até então estávamos inseridos. Assim, era inevitável que se fizesse novas amizades e, dadas as carecterísticas da unidade e da conceptualidade militar, se fosse estabelecendo o necessário espírito de corpo.

As transformações em cada um de nós, foram muito diversificadas. Éramos nesta fase, uma "massa a ser moldada" e, o processo de "moldagem" tinha em muito a ver com a matriz de cada sargento e outros instrutores. Eles é que nos iriam ensinar a marchar, a formar, a manusear as velinhas Mauser, a reconhecer as patentes (não fossemos "bater a pala" a um qualquer carteiro), a fazer as camas, a sermos ataviados, etc. Isto com a agravante de, como éramos voluntários, "não havia pão para malucos". Era aguentar, ou desistir e ir para o "arremacho"!

Foram 3 meses a aprendermos a ser gente, militarmente falando. 3 meses em que era mais respeitado um cágado (espécie de tartaruga), que havia num pequeno lago em frente ao Bar de Praças, do que era um "catatua".
A mim safou-me o facto do meu amigalhão já referido, e que não revelo o nome só para manter o "suspense" (sou muito mauzinho, não sou?), que, como era velhinho, lá me ia protegendo e orientando num universo de marados para todos os gostos e feitios e, onde por tudo e por nada, estávamos e "encher", ou como se diz nos meios menos ortodoxos: a fazer flexões.
Ser "catatua" era ser pau para toda a colher. Abaixo de nós não havia nada! Pelo menos era esta uma das tangas que nos davam.
Até aos velhinhos tínhamos de tratar por "nosso Pára", e nem pensar em sentarmo-nos à mesa do refeitório sem pedir autorização ao mais velho presente. O tabuleiro da comida ganhava logo asas!

Como compreendem os estimados leitores - isto partindo do pressuposto que os há - , compilar em breves linhas 3 meses de experiências ricas e inovadoras passadas há 34 anos, ainda por cima fazê-lo de memória, não é tarefa fácil para quem está já na proximidade dos 55 aninhos. Por isso aguentem, que logo que a disposição e os neurónios o permitam, darei continuídade a este tema.